domingo, 11 de dezembro de 2011

Sustentabilidade, relatórios e os riscos de greenwashing

*Texto publicado no blog Atitude Sustentável em 13/09/2010

Desde que comecei neste caminho da responsabilidade social empresarial (RSE) e sustentabilidade, tenho tido frequentemente uma dúvida. Basta olhar ao nosso redor para vermos que “sustentabilidade” é a palavra do dia, não é? Ela é usada a torto e a direito em publicidade de empresas as mais diversas, de bancos a tabaqueiras – acreditem, tabaco agora também é sustentável!

Se acreditássemos em tudo o que se diz por aí, não teríamos muito com que nos preocupar, não é? Pois eu preocupo-me com esse fenômeno de moda.

Até que ponto as intenções são genuínas? Até que pontos as empresas querem realmente tentar mudar progressivamente a forma como são geridas? E, sobretudo, quais são os resultados que devem ser considerados para serem uma “grande empresa” ou uma “empresa sustentável”? Como fugir do greenwashing (em outras palavras, “tapar o sol com a peneira” ou “operação de cosmética”)?

Em vários encontros dentro da rede de profissionais que trabalham com este tema, direta ou indiretamente, damo-nos conta do quanto as empresas têm progressivamente transformado os seus relatórios anuais em relatórios de sustentabilidade, integrando outros conceitos que não só os financeiros e mercadológicos. Ao mesmo tempo em que isso acontece, aparecem agências de publicidade ou consultoria unicamente especializadas em assessorar as companhias a entregar um bom relatório de sustentabilidade anual.

Ou seja, esses relatórios – sejam eles da GRI (Global Reporting Initiative), do Ibase ou baseados nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial – tendem a se transformar em produto final, ao invés de serem meras ferramentas da mudança. E, como produto final, eles criaram o seu próprio mercado entre:

• clientes: as grandes empresas que não querem “perder o bonde”;

• fornecedores: especialmente as agências de publicidade que vão se especializando;

• consultorias: que, hipoteticamente, ajudam as empresas a mudar sua cultura;

• empresas de auditoria: que, assim, ganham mais um segmento de mercado.

Mas atenção! Não sou pessimista a ponto de achar que os relatórios são inúteis. Longe disso. Sei que muitas empresas estão, de fato, a rever completamente a sua cadeia produtiva, para poderem melhor avaliar os impactos, positivos e negativos, sobre todas as partes interessadas, e não unicamente clientes e consumidores.

Também sei, por experiência, que o simples fato de tentar fazer um relatório de sustentabilidade minimamente apresentável, ou de preencher os Indicadores Ethos de RSE, já provoca uma discussão interessante e difícil dentro das empresas. E esse debate é o primeiro passo para o questionamento, o que, por sua vez, provoca a mudança.

Neste artigo, apenas queria mostrar como me assusto com essa direção tomada e questionar a efetividade do modelo. Mas também não encontrei nenhuma outra opção até agora. Só espero que a vinda da ISO26000 (ISO de RSE) não venha complicar mais as regras do jogo.

*David Borges, Gerente de RSE do Grupo FENAE

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