domingo, 11 de dezembro de 2011

O mundo sob nova direção?

*Texto publicado no blog Atitude Sustentável, no site www.mundocaixa.com.br, em 13/05/2010.

Pois é, pessoal. Estou escrevendo diretamente do penúltimo dia da Conferência Internacional Empresas e Responsabilidade Social do Instituto Ethos, cujo tema este ano é “O mundo sob nova direção”.

E o que retiro de importante até agora? Infelizmente, muito pouca coisa.

A sensação de deja vu é grande. Fiquei com a impressão de encontrar com as mesmas pessoas, ouvir as mesmas discussões, ver as mesmas inovações na mostra de tecnologias sustentáveis etc, etc.

Participei de uma discussão sobre as empresas e os relatórios não financeiros durante a qual não se disse nada de novo. Pior do que isso, senti que os relatórios estão a tornar-se “produto final” ao invés de serem um instrumento de mudanças estruturais. E isso mais uma vez me assusta.

O que mais senti falta, e na verdade sempre sinto falta nestes encontros, é de coisas práticas, implementáveis, com efeito a curto, médio ou mesmo longo prazo, no nosso universo empresarial. Porque é disso que se trata, não é?

Todo o propósito da responsabilidade social empresarial (RSE) foca mudanças estruturais duradouras que mudem, positiva e inclusivamente, a forma como as empresas se relacionam com o mundo onde agem, alargando o seu escopo de “agregar valor para os acionistas” para “agregar valor para todas as partes interessadas”, não é?

Pelo menos é essa a minha leitura. E disso encontrei pouco na conferência. Aliás, dei-me conta de que é uma frustração partilhada pelos colegas do Mundo CAIXA (pessoas da CAIXA, CAIXA Seguros, FUNCEF...) que encontrei aqui.

Longe de mim a intenção de questionar a legitimidade ou validade da carta da terra. É um documento inspirador e servirá como guia, espero, por várias décadas. Mas sinto que, por uma questão de praticidade, precisamos focar o trabalho local.

Think global and act local, dizem. E para mim faz sentido, pois sabemos que as mudanças pequenas, locais, quando solidamente estruturais, têm um efeito em todo o resto.

Se sou coerente com as minhas crenças (quaisquer que sejam) em casa, influencio o meu círculo de relacionamentos. O meu filho vai levar isso para a escola, influenciar os seus amigos, falar com os professores etc. A mesma coisa acontece no universo corporativo.

Não queremos que as empresas em que trabalhamos gastem mais dinheiro em filantropia ou similares. Embora ache que é seu dever partilhar com a sociedade (e não devolver) os seus ganhos, pensando na sua própria sustentabilidade futura. Prefiro trabalhar o nosso público interno, consistentemente e com coerência.

Pela minha experiência com gerenciamento de projetos, tento sempre dividir um grande problema muito difícil de solucionar em vários pequenos problemas mais fáceis de resolver. É o que entendo como visão sistêmica das coisas. Como a teoria dos dominós. Quando um cai, a tendência é os outros seguirem.

Mas, calma, não se deixem dominar pela minha visão pessimista. Tenho sempre muita esperança e confiança no ser humano e no futuro. O meu tio dizia que “um pessimista é um otimista prevenido”. Ou seja, sou muito otimista. ;)

Comentei ontem no almoço que normalmente saímos desses encontros com dois sentimentos:

• deprimidos com o caminho que está pela frente e o tamanho das montanhas que ainda temos que escalar;

• contentes ao ver que a quantidade de pessoas que partilham da caminhada tem aumentado. Devagar, mas com consistência.

É isso. Juntem-se ao trem da mudança!

*David Borges, Gerente de RSE do Grupo FENAE

Nenhum comentário:

Postar um comentário